terça-feira, 11 de agosto de 2009

just my luck?

Há aquelas alturas na vida em que tudo corre bem ou melhor do que até aí - o que não quer dizer que tudo seja perfeito, mas que tudo nos parece perfeito porque nunca tínhamos experimentado tal -, o que nos faz sair de casa a assobiar e encarar a rotina com outro fôlego. São aquelas alturas em que os planos parecem todos exequíveis, as amizades inabaláveis, os amores inquebráveis.

Não estou a escrever sobre isto por estar numa dessas fases, mas porque tenho receio delas. Tudo no mundo vem aos pares e isso inclui a sorte e o azar. O problema é a distância que os separa não ser suficiente para que tudo corra bem e, por isso mesmo, sempre que a vida me sorri eu desconfio e olho à volta, como se temesse estar a ser perseguido - e é precisamente isso: temo estar a ser perseguido pelo azar.

Não percebo se é por estarmos demasiado enredados na nossa sorte que os azares parecem bem maiores depois de uma boa fase ou se é mesmo porque nada nos é fornecido de graça e por cada coisa boa que nos acontece, temos de pagar o dobro ou o triplo a alguma entidade divina.

Ocorreu-me isto hoje, enquanto pensava que prefiro estar assim como estou, numa fase contrabalançada em que as sortes que me calham não são espectaculares e os azares não são desastrosos. Viva o mediano!

Um comentário:

Tu sabes quem disse...

não me acanho em dizer que acho que estás enganado. claro, nem toda a gente é de extremos como eu, mas já viste que o mediano é tão aborrecido por não nos surpreender?

é claro que custa estar numa maré de azar, mas isso não invalida que aproveitemos as marés de sorte, por mais escassas que sejam, entendes? são as marés de azar que nos fazem valorizar ainda mais as de sorte e talvez seja por isso que nos custa tanto ultrapassá-las, porque as vemos com maior impacto do que têm.

isto é apenas uma teoria que acabei de inventar, claro está. bem sabes que não penso nisto todos os dias.

é certo e sabido ou, como escreveria Jane Austen, "it is an universally acknowledged truth" que quando tudo na vida corre sobre rodas, há uma outra parte da vida que se desmorona. mesmo que isso não aconteça com outra parte da vida, há-de acontecer com a parte que corre sobre rodas.

eu e este pessimismo, não?

beijinho lunático*