quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Não compreendo as mulheres

As mulheres, ou pelo menos aquelas que tive a honra de conhecer, têm este péssimo hábito de não verbalizarem logo de início aquilo que lhes passa pela cabeça ou de guardarem para si impressões que a nós nem nos ocorreram. Falo especificamente daquilo que elas gostariam que tivessemos dito nesta ou naquela ocasião e que, por não dizermos, influenciamos negativamente o seu estado de humor, já de si delicado, fazendo com que se tornem resmungonas e mal-dispostas.

E se cometemos o erro de perguntar se algo está mal, levamos com aquele olhar fulminante - um dos pontos em comum com as várias mulheres que tive a honra de conhecer; o que faz com que haja também este ponto em comum com os vários homens que se cruzaram comigo, o que nos torna ainda mais solidários uns com os outros (coisa que elas parecem detestar).

Está visto que não percebo nada de mulheres apesar de gostar bastante delas, no geral. É que, pelos vistos, é suposto que adivinhemos o que dizer naquelas alturas em que apenas nos ocorre ficar calados ou mudar de assunto (ou de canal, depende da situação), o que nos torna, aos olhos delas, insensíveis. E mais vale nem sequer perguntar o que se passa, senão somos enxovalhados por não partilharmos de telequinese ou qualquer outra forma de aceder aos pensamentos delas (pois só assim compreenderíamos o que se passa por lá, já que não nos dizem).

Meninas, por favor, se fazemos alguma coisa de mal, não acumulem nem se deixem levar pelo mau génio. Avisem-nos.

Obrigado.

domingo, 16 de agosto de 2009

Devaneios I

Carrego comigo esta certeza de que o sono é algo de inútil, senão mesmo muito inútil. Claro que compreendo os benefícios indispensáveis daquelas oito horas de olhos fechados - nem sempre - e percebo que sem dormir morremos.

No entanto, faz-me confusão que passemos um terço da nossa vida a fazê-lo. Demasiado tempo perdido, sem ler este ou aquele livro, sem ver um filme, sem dar um passeio nocturno - isto para quem dorme de noite - ou estar com aquela pessoa importante.

Se pudesse não inventaria a cura para a Sida ou, num plano mais metafísico, não criaria a poção da juventude eterna, mas um elixir que nos permitisse não necessitar de dormir. Isso sim, seria uma descoberta magnífica.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Das saudades

Podia ser mais fácil definir esta coisa de que tantos padecem, uma espécie de moléstia que nos ataca e que pesa no coração, nos restringe os pensamentos e nos torna pesarosos. Não é uma doença - sim, considero que o seja - qualquer, mas um enfado da alma. E para isso ainda não inventaram uma cura cientificamente testada.

Saudade é querer ter nos braços quem está longe, suspirar urgentemente pelo cheiro, querer por perto um sorriso, ansiar por um beijo. É ter insónias dolorosas, como se padecessemos de uma dor de dentes e é, no entanto, bem pior do que isso. Mezinhas e ervas medicinais não existem para curar um ataque de saudades.

Lembro-me de estar contigo, deitados lado a lado, como se o mundo fosse apenas o espaço que nos separava - quase nenhum. E lembro-me de não querer que existisse mundo e puxar-te para mais perto até respirar pelos teus cabelos escuros fora, enredar os dedos nos teus, finos e longos, de unhas brilhantes de verniz escarlate, descobrir todos os teus sinais e marcas deixadas pelo sol, querer guardar na memória cada pedaço de pele morena e o brilho dos teus olhos amendoados. Queria adormecer assim para sempre, sem a urgência do coração e do toque a pedir mais por estares longe, com o teu calor misturado no meu e a escutar a tua respiração tão leve.

Saudades é querer de volta momentos que se foram tornando lembranças, recriá-los vezes sem fim até que se transformem em doces rotinas. O teu sorriso pela manhã, ao som dos raios de sol a entrarem, abafados pelos cortinados, e depois o teu "bom dia" de voz ensonada e o não querer deixar-te sozinha, com medo que desaparecesses. Saudades são este tormento, que faz com que não te esqueça nunca, nem durante as tarefas mais corriqueiras.

Quando desapareceste quis-te tanto de volta que não dormi, quis tanto o teu calor que me enredei em cobertores em pleno verão e não lavei os lençóis até ter a certeza de que o odor que ali permanecia era apenas o meu. De vez em quando, tenho a impressão de sentir o teu aroma por aqui, trancado na parede onde te encostavas quando o sol te enfastiava de tanta quentura, ou em todos os objectos que tocaste e que eu deixei tal como estavam durante muito tempo.

Quando penso em ti, fazes-me sentir tantas saudades que não me lembro de quem sou.

Sintra

Há em Sintra uma atmosfera qualquer que transforma em sombrios estes dias solarengos e quentes. A iluminação baça que trazem os raios de sol, que florescem as plantas e escurecem a pele, quase passam despercebidos no meio desta neblina que não se vê mas que, sem dúvida, se sente. Conheço quem escreva melhor do que eu e quem conseguiria transmitir melhor a veracidade destes factos.

Contemplo os turistas, ausentes da realidade por não compreenderem esta língua, que tiram fotografias às paisagens e não denotam que esta atmosfera só a vê quem aqui está e quem já aprendeu de cor os tons dos belos quadros que se nos apresentam os castelos e palacetas que são testemunhas de tempos em que lemos em livros históricos.

Gosto tanto de Sintra que já pensei em arranjar um tecto por ali. Imagino-me a comprar queijadas e travesseiros de manhã, a calcorrear caminhos escondidos e trilhos desertos pela serra fora, a sentar-me nos átrios dos palácios a fotografar as expressões maravilhadas dos turistas, a organizar tertúlias à moda dos escritores que preencheram páginas de ficção baseadas nestas terras.

Por agora fico onde estou e talvez assim dê mais importância a estas paisagens. Mas morar em Sintra nunca deixou de ser um objectivo.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

just my luck?

Há aquelas alturas na vida em que tudo corre bem ou melhor do que até aí - o que não quer dizer que tudo seja perfeito, mas que tudo nos parece perfeito porque nunca tínhamos experimentado tal -, o que nos faz sair de casa a assobiar e encarar a rotina com outro fôlego. São aquelas alturas em que os planos parecem todos exequíveis, as amizades inabaláveis, os amores inquebráveis.

Não estou a escrever sobre isto por estar numa dessas fases, mas porque tenho receio delas. Tudo no mundo vem aos pares e isso inclui a sorte e o azar. O problema é a distância que os separa não ser suficiente para que tudo corra bem e, por isso mesmo, sempre que a vida me sorri eu desconfio e olho à volta, como se temesse estar a ser perseguido - e é precisamente isso: temo estar a ser perseguido pelo azar.

Não percebo se é por estarmos demasiado enredados na nossa sorte que os azares parecem bem maiores depois de uma boa fase ou se é mesmo porque nada nos é fornecido de graça e por cada coisa boa que nos acontece, temos de pagar o dobro ou o triplo a alguma entidade divina.

Ocorreu-me isto hoje, enquanto pensava que prefiro estar assim como estou, numa fase contrabalançada em que as sortes que me calham não são espectaculares e os azares não são desastrosos. Viva o mediano!

domingo, 2 de agosto de 2009

Tristeza

Há muito que não escrevia aqui, mas o que me inspirou não foi nenhum momento iluminado por alguma força metafísica ou um acontecimento inesperadamente bom. Nada. Foi um curto-circuito de uma mente praticamente brilhante, que conheci há algum tempo e de cujos devaneios me tornei viciado. Uma criatura que, por alguma força maléfica, decidiu dar uma pausa e vai deixar indefesas as palavras que dela dependem. E os leitores que já não passam sem os seus raciocínios ilogicamente racionais apesar de lunáticos.

Hoje é uma noite triste para a história da literatura cibernética - esperemos que se fique por aí, a pausa. Espero sinceramente que este timeout sirva para preencher muitas folhas de rascunho e, quem sabe (e eu estou esperançoso), para que o mundo venha a descobrir a melhor escritora de todos os tempos.

Amén.