segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Memórias

Há tantas coisas que me passam pela memória! Momentos, essencialmente, e alguns versos que decorei sem querer, músicas, sorrisos e aromas. Tudo isso fica guardado, mas muitas vezes me pergunto para onde vão esses pedaços de mim e das minhas vivências quando eu deixar de existir.

Mas estas coisas metafísicas e algo filosóficas deixam-me consternado, afogam-me em dúvidas e silogismos sem fim e acabo por questionar: não será a memória um grande desperdício?

Disseste-me que não, que recordar é (re)viver. Eu concordei, mas não deixei de indagar: de que serve a memória se a nossa mente não existir? São questões que só me passam pela cabeça de vez em quando, especialmente quando tudo está tranquilo - é na tranquilidade que surgem as perguntas que me colocam no estado de espírito de sempre (inquietude).

Não quero recordar pedaços de memória que doem. Acima de tudo, não quero recordar as agulhas que foram espetadas no coração. De resto, não me importo de me lembrar de tudo aquilo que ainda hoje me faz sorrir. Seria tudo muito mais fácil se a memória tivesse um botão de 'on' e 'off', disse alguém com quem partilho luares frequentemente. É verdade. Mas nada que valha a pena é fácil, disse outro alguém. E aqui me divido entre dois pontos de vista que não fazem mais do que perturbar esta mente já de si atribulada.

Se há coisa que quero recordar, são as estórias, aquelas pequenas estórias com que se constroem as vidas e que nos transformam constantemente em quem nós somos.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Artigo primeiro (em jeito de começo atribulado)

Às vezes penso que estou obcecado. Muitas vezes tenho a certeza.

Deixamo-nos embalar pelas horas que passam sem nos darmos conta, envolvemo-nos em atmosferas que criamos com as palavras que nos saem sem que as consigamos controlar, brincamos com argumentos e saboreamos os sonhos, aqueles que nos tomam conta da mente quando estamos distraídos. Ficamos doloridos de nós próprios, mas sedentos das palavras do outro - o paradoxo que nos define? - como se não nos falássemos há anos e anos - será isto normal?

A tua presença carrega uma certa leveza - não aquela que é insustentável ao ser, longe disso! - e não consigo deixar de me embrulhar na tua aura, nas tuas gargalhadas tão fáceis de despertar do teu diafragma de bailarina, nos sonhos que partilhas comigo.

Em jeito de começo, algo atribulado, me rendo às palavras que me faltam e assim termino o artigo, o primeiro. De muitos. Na tua companhia. Doce musa.